quinta-feira, 5 de abril de 2012

“O retorno e terno”

“O escritor não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele faz é simplesmente iluminar com os seus olhos aquilo que todos vêem sem se dar conta disso. E o que se espera é que as pessoas tenham aquela experiência a que os filósofos Zen dão o nome de "satori": a abertura de um terceiro olho, para que o mundo já conhecido seja de novo conhecido como nunca o foi.” Rubem Alves

Durante nossas vidas passamos por situações que nos deixam cabisbaixos. E, na corrida, não seria diferente.

Para um corredor, o pior diagnóstico é aquele que o sentencia a parar de correr, fruto de uma lesão grave. Sim, ninguém quer parar de sentir a endorfina na veia.

Passei por esta situação quando fui sentenciado a uma “tendinopatia insercional de Aquiles”, no segundo semestre no ano passado. Tá bom, mas o que o herói grego que participou da tomada de Tróia tem a ver com isso? Simples: ele não era tão invulnerável como diziam, pois seu calcanhar não foi banhado nas águas do infernal Estige, já que era por ali que sua mãe o segurava.
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Então, o meu inferno foi quando fiz a escolha de correr com um tênis “vencido” num piso de concreto duríssimo, por 13km; o tal calcanhar chiou. Ainda bem que não foi uma flecha envenenada a me afetar. Mas começou ali a minha sentença que, oito meses depois me tirou das pistas.

Tendões à parte, o fato é que meu último treino foi em 17 de agosto e o paulatino retorno se deu em 23 de novembro. Nesse interregno, algumas leves corridas para avaliações fisioterápicas (claro, tive que fazer aquelas famosas sessões de fisioterapia). Também fiz dois meses de deep water, uma atividade realizada em flutuação, sem impacto e em água aquecida. Não queria perder o meu condicionamento (recomendo esta atividade a todos que adquirem lesões por esta vida a fora).

Durante este tempo, lógico, bateu a preguiça de escrever, veio a apreensão e assim encerrei meu ano, bem diferente do até então promissor 2011.

Apesar dos pesares, tive grandes incentivos para continuar a caminhada, ou melhor, a corrida: os amigos. Ah, não somos nada sem eles. E, de modo excepcional e amável, a minha querida Patrícia, ali ao meu lado, dia a dia, preocupada e apoiando diariamente a minha recuperação.

Foi nessa época que surgiu o “Bonde de Bacelar”, uma estratégia dos amigos em correr juntos, numa disputa saudável, em prol de quem estava ali lesionado. Uma atitude admirável, louvável, carinhosa e que veio acelerar meu retorno, terno!
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Também não posso deixar de mencionar a equipe da Salute, que através de seus profissionais, fizeram a minha reinserção nas pistas de corridas, ou melhor, nas ruas!

E foi a através da Salute que meus planos começaram a mudar para 2012….